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Relato: Travessia do Ciririca por Cima – A aventura que testou nossos limites

No dia 17 de julho de 2021, decidi me desafiar e enfrentar uma das trilhas mais lendárias e difíceis das Serras Paranaenses: o Pico do Ciririca. Para deixar a aventura ainda mais emocionante, resolvemos fazer a travessia completa pelos 7 Cumes da região. O plano era claro: enfrentar o frio do inverno no Paraná, superar os obstáculos e curtir cada momento dessa jornada inesquecível.

 

O começo da aventura

Chegamos na Fazenda do Bolinha por volta das 7h, um local conhecido por dar apoio a aventureiros e montanhistas. O Paraná é, sem dúvida, um dos lugares mais organizados quando o assunto é aventura. Assinamos o termo de responsabilidade e, com a autorização em mãos, estávamos prontos para começar a subida.

Já no início, nos deparamos com muita lama – algo esperado, já que havia chovido cerca de 100mm nas noites anteriores. Mas o clima estava favorável: poucas nuvens no céu e previsão de apenas uma garoa fraca à noite. A trilha era linda, e a lama não nos incomodou tanto. Logo chegamos à primeira subida, que nos levou ao Pico Camapuã. Após um grande rampão que parecia um tobogã, alcançamos o cume. Infelizmente, o tempo estava fechado, e a previsão do tempo havia errado um pouco. Mas tudo bem, faz parte! Assinamos o livro de cume e seguimos em direção ao próximo destino: o Pico Tucum.

 

O time forte e a trilha que se fechou

O time estava em ótima forma, e chegamos ao Pico Tucum rapidamente. No cume, o tempo abriu, e aproveitamos para tirar fotos e curtir a vista. Como estávamos confiantes, relaxamos um pouco, mas eu sabia que, dali em diante, a trilha ficaria mais desafiadora. E não deu outra: após o Pico Tucum, a trilha realmente se fechou, e a dificuldade aumentou.

A lama em alguns trechos passava do joelho, o que nos obrigou a diminuir o ritmo. Ao entrar em uma pequena floresta, percebi que havia cometido um erro grave: estava seguindo um treklog de um grupo que havia feito a trilha em junho (apenas um mês antes). Achei que seria confiável, mas estava enganado. Em muitos trechos, seguir a trilha batida era mais seguro do que confiar no GPS. Após alguns erros e acertos, finalmente chegamos ao Pico Cerro Verde. A paisagem era de tirar o fôlego – provavelmente uma das áreas de camping mais bonitas, com uma vista incrível da Serra. Será que era a mais linda? Talvez…

 

Descanso e decisões difíceis

No Pico Cerro Verde, paramos para comer e descansar. Cada um com suas guloseimas, e o Mário surpreendeu com um chazinho da Bolívia. Aproveitamos para relaxar um pouco mais, já que o time estava forte. Dali, já era possível avistar o Pico do Ciririca, nosso destino final. Parecia tão perto… Mas as aparências enganam.

Continuamos a trilha, mas o treklog nos levou a várias enrascadas desnecessárias. Mesmo assim, insistimos e chegamos ao Pico do Siri e, logo ao lado, ao Pico dos Ovos (sim, cada nome é mais curioso que o outro!). Ao descer do Pico dos Ovos, vi a trilha claramente indo para a direita, mas o GPS insistia em mandar para a esquerda. Por algum motivo, ignorei meus instintos e segui o GPS. Resultado? Ficamos presos em uma floresta, abrindo mato no peito.

 

O desafio final: Frio, exaustão e superação

Já era por volta das 23h, e a situação estava crítica. Estávamos encharcados pela garoa fina e gelada, com o termômetro marcando 0°C. Faltavam apenas 100 metros para o cume, mas parecia uma eternidade. A moral do grupo caiu, a exaustão bateu, e uma amiga começou a dar sinais de hipotermia. Decidi que era hora de agir: juntei os dois mais fortes do grupo e subimos correndo para o cume para montar as barracas. Deu certo! Ela entrou na barraca e se aqueceu, e logo todos estavam em segurança.

O céu da meia-noite abriu, revelando uma explosão de estrelas. Foi um momento mágico, de pura conexão com a natureza. Aprendi muitas lições naquele dia e, logo depois, já estava roncando junto com a galera.

 

A recompensa no dia seguinte

Na manhã seguinte, o visual do Pico do Ciririca era incrível. Conseguimos ver o Pico Paraná de um ângulo diferente, e a vista era realmente deslumbrante. Sofremos bastante, mas valeu cada minuto para conhecer o lado B da Serra do Ibitiraquire.

 

O que aprendi?

  1. Confie nos seus instintos: Nem sempre o GPS está certo.
  2. Esteja preparado para o inesperado: O clima pode mudar rapidamente, e é crucial ter equipamentos adequados.
  3. Trabalho em equipe é essencial: Em situações críticas, a união do grupo faz toda a diferença.
  4. Respeite a natureza: A montanha sempre surpreende, e é preciso estar humilde diante dela.

 

A Travessia do Ciririca por Cima foi uma das aventuras mais desafiadoras da minha vida, mas também uma das mais recompensadoras. Cada obstáculo superado, cada vista deslumbrante e cada momento de conexão com a natureza tornaram essa experiência inesquecível. Para quem busca aventuras intensas e paisagens incríveis, essa trilha é um prato cheio. Só não se esqueça: prepare-se bem, respeite seus limites e, acima de tudo, curta cada passo do caminho.

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